sexta-feira, outubro 05, 2007

Sem nada...


Apetece-me escrever, escrever sem parar mas muitas vezes fico imóvel somente a olhar para isto mas no meu pensamento as palavras desfilam sem parar...
Não é só o dia de hoje que me deixa triste pois não tem nada a ver com o hoje, são coisas do passado, passado recente...
Vivo uma ilusão e ao mesmo tempo um martírio, já não acredito em nada, aquilo que eu vejo e vou vendo acaba por fazer mais sentido do que aquilo que eu oiço, as palavras enganam e ferem como punhais, mas ao mesmo tempo eu não sinto nada, apenas um vazio que se instala dia após dia, não me apetece mexer daqui pra fora, não há sitio para onde ir nem sitio onde ficar, o passado existirá e o futuro pode acontecer, mas este hoje de agora não é nada, não tem nada para mim, é vazio e constante e isso tira-me qualquer possibilidade de ver uma nesga de futuro no horizonte, e já agora, porque o horizonte é sempre para a frente ou neste caso, porque a vida é em frente e não para cima?
As coisas deixam de fazer sentido, é como que se a música que me fazia inspirar já não soasse a nada...é um desejo de desaparecer daqui e ir para bem longe, longe da confusão desta engrenagem a que chamam justiça e civilização...
Ás vezes acho que nascemos e morremos numa rotina repetitiva e a maior parte da vida não é vivida no nosso mundo mas no mundo dos outros com as regras duma minoria para uma maioria...
12 meses, segunda a sexta mais sábado e domingo, impostos todos os dias...
Mais uma vez olho para aqui e paro um pouco...
para quem é perfecionista como eu, estou muito aquém pois nesta minha secretária jazem amontoados de papeis, panfletos, contas para pagar, mais contas, 3 livros e outros objectos além de algumas migalhas de pão...isto não acontecia antes pois nesse antes, tudo estava mais ou menos no sitio e arrumado e o pó não era muito...
Lembro-me de há uns 7 anos atrás ficar desiludido com certas coisas na vida, a decepção foi muita, acabei por me rodear doutras formas de vida que acho sublimes, um aquário com dois peixes, já não sei bem se era um ou dois, tinha uma planta esquisita num copo com um gel cor de laranja, um canário e uma caturra, tudo aqui ao pé de mim, para mim era um pequeno mundo com que eu podia contar nas horas de refugio que eram nada mais do que os intervalos entre as rotinas num mundo que já não queria como meu...
E hoje volto a não querer nada disto...tão diferente que eu estou...
Lembro-me que num passado não muito longínquo, por muito que me custasse levantar da cama cedo para ir para o trabalho, quando chegava um feriado ou um fim de semana, eram 7 da manhã e já estava a pé e sem sono e o meu dia começava cedo e se fosse Verão maior era o meu dia, e é claro que net não havia e tlm ainda não, tinha o bricolage, livros além de outras coisas mais e havia tempo sempre para a família que não era muito numerosa e por isso havia mais contacto amiúde, agora é tudo diferente, quem casou descasou ou nem por isso, as dificuldades da vida fizeram cada um ficar no seu cantinho, passa-se um dia, outro e mais outro e é um cá e outro lá...
Mais parecemos estranhos, agora...
Quantas vezes disse eu que tenho saudades de mim?
Do tempo em que a vida não parecia nada ser difícil de ser vivida e tudo corria bem...mas não sou só eu...isto é só um desabafo...
Estou a divagar por um montão de coisas...Não sei se vale a pena ficar aqui á espera da seg feira ou se mais vale ficar apenas por aqui...
Nada me faz rir nem nada me faz chorar, mas é uma tristeza, uma tristeza que não dói ou se dói, então eu já não sinto...nada...
É uma sensação que não é bem de perda, mas sim como se me tivessem dado algo, algo que eu acreditava muito e depois me tirassem o algo que me deram deixando-me ali especado a olhar incrédulo...
Não acreditar em nada é mau, eu sei isso e sinto isso...
Talvez hoje aconteça algo que me faça mudar de ideias pois eu sou assim, um dia estou num extremo, no dia seguinte já posso estar no outro...
Talvez aconteça mesmo algo, algo que ponha em marcha novamente todo o meu ser da forma como me conheço...
Quando nada acontece, tudo se resume num talvez que é um sim e um não...

2 comentários:

Purpurina disse...

Como eu te compreendo, nem imaginas como...
Agora percebo como somos gémeos.

beijoca

No Limite do Oceano disse...

Todos nós temos dias assim...escrever sem parar...as linhas de letras vão-se acumulando, liberta-se algo que estava contido dentro de nós...

"Quando nada acontece, tudo se resume num talvez que é um sim e um não..." Eu digo-te quando escrevemos acontece sempre algo, mesmo não sendo nem um sim ou um não, a mensagem foi partilhada e isso sim faz com que os extremos não permaneçam estáticos.

*Hugs n' smiles*
Carlos